Herdeiros de Thanatos
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Cap 20 – O fim de uma vida, o começo de uma lenda Part 2

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Mensagem  Gaby ADM Ter Jul 17, 2012 8:31 pm

- Sim, prepare-se para uma possível batalha. Thanatos está ficando tão forte quanto o esperado e sua reação diante da batalha mudou completamente, como se fosse outra pessoa...
Duas figuras sombrias pelo céu tempestuoso conversavam. Uma delas estava ajoelhada diante o trono onde a outra jazia sentada.
- Ele é apenas um humano mortal, o que poderia diante de um deus? Não é necessário preparação.
- Subestimar um filho de Nix é ansiar pela derrota, lembre-se bem disso, Thor.
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Morroc sentia seu corpo gelar e cristais de granizo rasparem em sua grossa carapaça. Pouco a pouco sua pele se cristalizou em gelo, mas a criatura pouco se importou.
- Não vai ser sua magia, por mais forte que seja, que vai me derrotar, humano ignorante. Estás lidando com o filho de Ymir, algo muito mais poderoso do que você pode imaginar!
A besta rosnou alto e sonoramente e todo o gelo que se formara em cima dela se estilhaçou, no entanto o deus da morte não se intimidou em nada com aquela reação, continuando impassível. Seu olhar frio e distante congelaria o coração de qualquer mortal, mas lhe era inútil contra Satan Morroc, muito mais forte do que ele imaginara.
- Se você quer na ignorância, é assim que vai ser...
O paladino deu um salto, fazendo um buraco no chão se formar com tamanha força que o fizera, e partiu em direção a Morroc. A batalha corpo-a-corpo recomeçara.
-Ihihihi...
Acima das nuvens e olhando pela mesma fresta de antes estava Randgris, a valquíria.
- Aposto que eu derrotaria um deles... Não não, eu derrotaria os dois, é isso, os dois...
Os olhos azuis celestes acompanhavam atentamente cada movimento das criaturas abaixo. Ela esboçava um sorriso ao ver cada golpe, cada técnica, esquiva e bloqueio. De todas as valquírias que serviam Odin, Randgris era a mais nova e também a mais imprudente e infantil.
- Uhuhuhu... Se eu descesse até lá e os derrotasse... Aposto que Odin ficaria tão feliz que me nomearia uma capitã! Acima de Skuld-sama! Uhuhuhu...
Um sorriso um tanto insano brotava dos lábios daquela garota. Os pensamentos jorravam vertentes de lutas imaginárias contra os dois titãs, obviamente ela os derrotava facilmente em todas as suas suposições.
- Só preciso esperar... Só mais um pouco... Ihihihi... Assim que um deles cair... Derrotarei o outro... Ihihihi...
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A luta entre os dois únicos seres viventes de Rune-Midgard ganhara agora uma nova dimensão. Não era raro os dois se embolarem em uma luta corporal a golpes de extrema velocidade e potência. Thanatos havia naquele momento até abdicado de sua fiel espada para combatê-lo com as mãos nuas.
- Guerreiro imprudente. Mal pode lutar comigo com a sua espada, queres fazê-lo sem ela? Receberá a recompensa por sua ousadia! – Bradou a fera em um raro momento em que a luta cessara.
- A próxima vez que eu tocar nessa espada para te atacar, será a última... – Retrucou o deus da morte.
Mais uma vez eles se atracaram em uma rixa insana. Nuvens de poeira subiam a dezenas de metros do chão. Toda a parte central da Grande Floresta até a Savana de Sograt estava sendo devastada. Milhares de árvores foram derrubadas, mas nenhum ser, além das próprias plantas, fora atingido. O mundo estava vazio de vida.
Entremeio os ataques frenéticos de ambas as partes, em um golpe de sorte, Morroc acerta um possante soco certeiro na cabeça de Thanatos. O deus da morte cambaleou e caiu para trás. O sangue vertia de sua testa, cobrindo metade de sua face com o líquido rubro e quente que corria em suas veias. Ofegava.
- O destino daqueles que se opõem a Satan Morroc... É a morte.
A fera parecia duas vezes maior que o paladino negro agora. Caído bem a sua frente, o fim estava próximo e os próximos golpes decidiriam o futuro de todo o mundo, o destino de todas as eras subsequentes.
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- A batalha terminou. - Odin em seu trono, Hell em seu reino, Randgris em seu esconderijo e Nix sobre as nuvens disseram em uníssono.
...
- Ihihihi... Minha hora chegou, hora de Randgris mostrar a todos a sua verdadeira força e poder... Ihihihi
O sorriso insano em seu rosto, seus risinhos diabólicos e o olhar mortal deixavam a duvidar se aquela era mesma uma donzela guerreira, ou um demônio saído dos mais profundos campos de Helheim. Não fosse sua aparência angelical e estonteantemente bela, não haveria dúvidas sobre isso.
...
Nos campos gelados de Niflheim um imenso lobo feito inteiramente de gelo uivava à chegada de sua dona.
- Garm... Essa é nossa nova hóspede especial... Certifique-se de que ela não fuja, mas jamais a machuque...
Em meio a rosnados e bufadas gélidas vinda do fundo dos pulmões, o cão gigantesco cheirava a nova criatura: uma linda jovem de cabelos azuis, Camile.
...
- Ah Thana-kun... Gostaria que nada disso tivesse acontecido... Falhei com você... E também com sua irmã... Não mereço ser chamada de mãe...
Nix agora olhava para baixo, vendo toda a cena acontecer, o fim de uma batalha como nunca se verá mais uma vez. Pouco se importava com as ordens de Odin quanto a proibição de ver a luta, era seu filho ali.
...
- A hora chegou... Thor abra o céu agora, a tarefa de Thanatos teve fim, não como o era almejado, mas assim foi e assim tinha que ser.
- Como desejar pai.
Então o céu se abriu e todos puderam ver o vitorioso triunfante como o último sobrevivente terrestre.
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Nuvens de vapor exalavam da bocarra horrenda de Morroc, provenientes de seu hálito quente e nauseabundo. O filho de Nix permanecia caído bem à frente dele, mas seus olhos amarelo mórbido o fitavam a todo o momento. Não esboçava raiva, ódio, dor ou qualquer outro sentimento terreno, apenas observava-o a todo instante, tal qual uma víbora encarando um homem se aproximar perigosamente dela.
- Lutaste bem, filho de Nix, mas no fim das contas o meu parentesco fora mais forte.
A besta levantou os braços em arco, daria apenas um golpe certeiro naquele homem e tudo estaria acabado.
"Perdoe-me Thanatos, quebrarei minha promessa apenas dessa vez".
A mão direita do paladino buscou sua montante presa às costas. Fechou os olhos e respirou fundo, o ataque que ia receber lhe parecia lento e previsível. Engoliu a seco. Seus músculos começaram a tencionar. As memórias de Thanatos agora lhe afloravam a mente, o rosto de alegria dos amigos, o de terror dos inimigos, as ordens de Odin, aquele cálido "abraço" que recebera da sua mãe: a noite. Seus olhos abriram e ele pôde ver o peitoral de Morroc completamente aberto, agora que ele estava com os braços completamente arqueados para cima. Sibilou de uma forma baixa, mas tão aterradora que o próprio titã sentiu um frio correr-lhe a espinha.
- Sacrifício...
Em um veloz movimento de corpo ele se levantara e aparecia embaixo do corpanzil do demônio, com a espada em punho e os olhos cravados em seu alvo. Morroc nada pôde fazer, eram movimentos rápidos demais para ele, tudo havia terminado em menos de um segundo ao seu ver.
- ... Do mártir...
Os músculos do paladino estavam tencionados de tal forma que o ataque que desferira no titã lhe fez romper dezenas de ligamentos do braço, mas fora o mais efetivo ataque até agora. A força do golpe foi tamanha que o rombo aberto do peito da besta vertia sangue como uma cachoeira infernal.
Morroc não só fora ferido mortalmente com aquele ataque, como foi jogado a dezenas de metros para trás, deixando um rastro de sangue tal qual um cometa deixa um rastro de luz no céu.
Mas o ataque não tinha terminado, aquele era apenas o primeiro. O paladino conseguia escutar seus próprios ossos estalando e trincando com a força que adquiriu. Com um salto para frente e mais um ataque com igual força ao anterior ele abiu outra ferida profunda, larga e gigante no peito da criatura. Agora um grande "X" estava incrustado em seu corpo.
O demônio nem sequer reagiu a tudo aquilo. Era insanamente forte e rápido, como se não fosse o mesmo Thanatos com quem estava lutando. Várias e várias vezes uma frase ecoava em sua mente.
"Como ficou tão forte?".
Para o desespero dele, o ataque ainda não terminara. Thanatos agora estava novamente embaixo da fera, no entanto ele abdicou de um ataque cortante para dar aquilo que tinha recebido pouco tempo atrás, um possante soco, mas dessa vez no queixo. O soco do titã fora forte o suficiente para abrir um corte na testa de Thanatos, o soco de Thanatos fora forte o suficiente para esmigalhar a mandíbula de Morroc, fazendo dúzias de dentes voarem para os lados.
Thanatos ainda não ficara contente com isso, não ia parar agora, não até ter derrotado completamente aquele monstro. Girou o corpo, apoiou as duas mãos no solo e com o dobro da força que usou no soco, chutou o abdômen do demônio com os dois pés. Satan simplesmente voou pelo céu, não alguns metros, não dezenas, mas centenas de metros do solo.
O deus da morte olhou para cima. Seus olhos sangravam, sua boca sangrava, seus poros sangravam em uma hemorragia auto-induzida. Estava se matando com aqueles golpes, usando uma força que era maior que o seu corpo podia suportar, essa era a verdade. Em um salto que mais pareceu um vôo ele se equiparou a Morroc. O demônio já estava inconsciente aquela hora, somente os dois primeiros ataques o deixaram completamente fora da luta, mas ainda faltava o Coup de Grace*. Estavam ambos a centenas de metros do solo, dali poderiam ver toda a área devastada pela sua luta, mas em momento algum parou de olhar para o demônio. Depois daquele ataque tudo estaria acabado, depois daquele ataque sua missão estaria cumprida, depois daquele ataque seria o vencedor da peleja. Girou os dois braços no ar. Sua montante negra faiscava, como se uma alegria pelo encontro com a carne da fera tomasse conta do metal. Não sentia dor alguma, mas sabia que muitos ossos estavam quebrados, muitos músculos rasgados e vários tendões rompidos. Tudo aquilo valeria a pena no final. Aquele foi o ataque de uma vida, nunca mais se veria potência semelhante, nem o próprio deus da morte conseguiria usá-lo novamente. Com ajuda da força centrífuga, o peso da gravidade, o peso de sua espada e toda a força restante em seu corpo ele simplesmente rebateu o demônio de volta ao solo, fazendo-o cair meteoricamente no coração da Grande Floresta. A onda de impacto foi tanta que varreu todas as árvores que estavam em pé em um raio que ia de Prontera até o mar. Uma cratera gigantesca se abriu no solo, tão funda que não se via seu fim, apenas o vazio negro e aterrorizante, como um buraco negro em terra.
A luta acabou.
Os céus se abriram. As nuvens, que antes cobriam todo o mundo por dias, se foram. O sol brilhou mais uma vez naquela terra desolada, agora praticamente desértica. Árvores derrubadas, crateras para todo lado, destruição a perder de vista.
Uma chuva dourada desceu do céu, não das nuvens, de além delas. Era como se rasgasse o firmamento celeste e penetrassem nesse mundo. Faiscavam em contato do sol, uma chuva que não molhava, uma chuva que não alimentaria as árvores e sim as cobriria. Toda aquela área de floresta devastada e aquela enorme cratera fora coberta com a precipitação dourada. Um dilúvio divino, uma chuva de areia. Nada mais cresceria naquela área a não ser palmeiras vinda de além-mar. Não mais choveria naquela terra a não ser nos parcos oásis que sobraram. As gerações seguintes chamarão toda essa área de Deserto de Sograt, o nome do local onde a batalha fora decidida.
*Coup de Grâce: Golpe de misericórdia
...
Mas nem toda a vida havia sido extinta daquele mundo, ainda um coração batia, ainda havia uma respiração, embora lenta e silenciosa. O deus da morte ainda estava ali, embora não houvesse sinal de sua batalha terrível. O local havia mudado, assim como ele. O paladino havia quase se matado com aquela luta, no entanto em cima daquela duna dourada estava um guerreiro completamente restaurado. Sua armadura, embora mantivesse a aparência cadavérica, estava completamente limpa, como nova. Não se via ferimentos em nenhum ponto de seu corpo, nem sangue, nem hematomas. Seus olhos mantinham-se fechados, sua espada presa as costas e sua capa vermelha ondulava com o vento.
- Bom trabalho guerreiro... Ihihihi...
Montada em seu corcel branco, um filho de Sleipinir, estava Randgris. Seu sorriso inconfundível ainda lhe carimbava o rosto. Cavalgando das nuvens até ali ela foi a primeira a chegar e sua vontade finalmente seria sanada.
- Com a sua morte... Ihihihi... Odin reconhecerá meu poder, não vou mais ficar patrulhando inutilmente por aí...
A Valquíria era conhecida como "Destruidora de escudos" por ser a mais apressada de todas, escolhendo o ataque como sua principal defesa, rechaçando inimigos defensivos antes que estes pudessem saber o que havia acontecido.
- Não se preocupe, vai acabar rápido, não vai doer.
Ao dizer isso Randgris piscou para o paladino e essa foi a sua sorte, ou estaria cega dos dois olhos. Assim que seu olho se fechou, os de Thanatos abriram e só a visão direta que lhe fora dado pela valquíria foi capaz de cegá-la imediatamente.
- Agh! Maldito! O que foi isso? Eu seria boazinha, mas acho que mudei de idéia agora. - Sibilou a mulher.
Ela abaixou o visor de seu elmo, agora lutaria às cegas, o que para ela não era nada demais. Seus outros sentidos eram incrivelmente bem treinados e ela podia "enxergar" sem precisar dos olhos. Ela não sabia dizer o porquê, mas tremia. Não era medo, não poderia ser medo, uma valquíria como ela não ia temer um mortal como aquele, ou o fato de tê-la deixado cega apenas com um olhar a teria feito hesitar? Isso pouco importava agora, a idéia era derrotá-lo e mostrar a Odin que merecia ser uma valquíria de posto maior.
- Morra filho de...
Não houve tempo para que ela terminasse a frase. Entrava agora em estado catatônico.
"Não pode ser... Ele não Pode... Ser tão forte... Isso é... Loucura..."
Randgris tinha um motivo para estar daquele jeito. Antes mesmo que terminasse de falar sentiu seus dois braços caírem de encontro ao chão. Era como se simplesmente tivessem descolado do corpo, mas aquela dor que sentia nos ombros denunciava o que tinha acontecido. Era o metal, o metal frio e amaldiçoado da espada do deus da morte. Ela julgava aquilo uma insanidade, uma coisa impossível, sequer notou um simples movimento de mão por parte do paladino. Aquele não era mais o Thanatos que ela via lutar contra Morroc, era outro. Caiu para trás, mas fora amparado por outra valquíria. Randgris nunca mais seria a mesma depois daquele dia.
- Skuld, leve essa criança imprudente para Valhalla... Trate de seu olho e leve-a para Frigga para que ela possa ver seus braços.
- Como quiser, Odin meu senhor.
Havia todo um pelotão de valquírias no lugar, Randgris e mais duas delas voltaram, mas o grupo ainda era grande.
- Você se saiu bem Thanatos... Como eu imaginava, você não me decepcionou... Agora resta apenas uma última ação para que sua missão esteja completa.
A voz do senhor dos deuses não soava mais tão ameaçadora e potente como da primeira vez em que se encontravam. Thanatos não era o mesmo do dia em que transcendeu e sequer temia aquela figura rodeada de guerreiras alvas.
- Lembra-se, Thanatos? Você vai purificar a terra, purificar a todos do mal que assola o mundo para nós os deuses podermos recuperá-lo. Mas um mal ainda caminha por esse mundo.
Tudo se cala naquele momento. O deus da morte permanece impassível, do mesmo modo que estava até a chegada de Randgris aparentemente não tinha se movido um milímetro, embora agora encarasse Odin nos olhos.
- Você foi corrompido Thanatos... O mal de Morroc foi tamanho que corrompeu o seu coração também... Se uma única parte desse mal ainda permanecer no mundo ele sobreviverá, não importa quantos ataques receba.
Odin caminhava a passos lentos em direção ao paladino. As valquírias não se moviam, tinham total consciência da força daquela figura tenebrosa em sua armadura horripilante. Elas viram o que aconteceu com Randgris.
- Para que o mal do filho de Ymir termine, você também precisa se sacrificar... Infelizmente sua alma se despedaçou e você não terá para onde ir... Desaparecerá dos nove reinos... Mas será para sempre lembrado como um herói por isso...
Ao escutar que sua alma se perderia, Thanatos avançou ferozmente em direção a Odin, atacando sem piedade.
"Já quebrei minha promessa uma vez, não o farei novamente..."
Seu ataque fora detido, não por Odin, mas por um jovem a sua semelhança, embora obviamente mais novo, segurando um machado entre as mãos.
- Não senhor, o meu pai você não ataca! – Disse o rapaz que segurava o ataque do deus da morte.
Relâmpagos bombardeavam o solo ao redor de todos e as armas faiscavam ao contato.
- Nix, detenha seu filho, ou eu irei fazê-lo – Falou Odin, calmamente.
O dia se tornou noite. Não foi espanto para nenhum dos presentes, já que ele havia chamado pela deusa da noite. Thanatos se acalmou misteriosamente, cessando o ataque, enquanto Thor, que apenas defendia-se, voltava para perto de seu pai.
- Como ele pôde se igualar ao Mjolnir, pai? – Sussurrou para Odin, mas este nada respondeu, apenas fitava o rapaz de cabelos azuis.
O véu escuro de Nix agora dominava a paisagem. O céu tomava o azul celeste como cor, mas as estrelas lhe faltavam, assim como a lua. Nix estava em pé, puxando o filho para um abraço. Uma incógnita era saber de onde ela tinha surgido, a impressão que se tinha é que ali ela estava desde o começo. O grande deus da morte agora parecia um garotinho perto da mãe. Ela era maior que ele, graças a seus poderes divinos poderia alterar sua forma, tamanho e tudo mais o que lhe viesse à mente.
- Está tudo bem agora, mamãe cuidará de tudo...
Aquelas palavras, tão dóceis e familiares, apaziguaram qualquer temor, receio ou agressividade que poderia haver na mente de Thanatos. Sentia-se seguro como nunca havia se sentido desde que saíra de casa. Sim, suas memórias de infância agora eram vívidas e claras. O belo chalé nas montanhas, o sorriso amável de sua mãe, as brincadeiras com Camile...
Enquanto o deus da morte estava entorpecido pela presença de sua mãe, Nix e Odin começaram um embate que apenas Thor observaria.
- Guerreiras de Frigga, voltem para o Valhalla e de lá não saiam até que eu assim ordene. – Ordenou a deusa.
Valquírias recebem ordens apenas de Odin, mas aquela foi diferente, era irrecusável e Odin as perdoariam por isso. Então apenas quatro seres permaneciam agora no deserto.
- Ele foi corrompido Nix, você sabe disso, ele precisa ser sacrificado para que Morroc não volte mais.
A deusa escutou os dizeres, mas sua face estava voltada para o rosto de Thanatos. O fitava com ternura e mexia em seus cabelos, sempre sorrindo para ele.
- Está falando de meu filho, Odin... Não de qualquer humano... Tem consciência disso?
- Por que pergunta se sabe a resposta?
- Você o usou, e como um brinquedo que não tem mais utilidade quer jogá-lo no lixo... É assim que trata alguém que acreditou em sua sabedoria a ponto de ir contra os próprios amigos? Contra os próprios princípios?
Thor, que ainda estava ao lado do pai, tremia diante as palavras da deusa. O rapaz era um deus de Valhalla, um guerreiro orgulhoso e forte, mas aquela mulher a sua frente parecia ser tão ou mais aterradora que seu filho, a ponto de fazê-lo vacilar em sua frente.
- Não vacile Thor, ela não fará nada a você se não fizer nada contra ela ou seu protegido – Sussurrou Odin.
Então o rapaz respirou fundo e atentou novamente a conversa.
- É pelo bem de todas as gerações futuras, você tem que entender isso.
- Pois eu não entendo. Não entendo onde eu estava na cabeça quando concordei com o seu plano egoísta... Eu bem deveria saber que você não é confiável, fazendo promessas vãs, homem sem honra.
O filho de Odin sentiu o sangue subir a cabeça. Aquela mulher estava ofendendo seu pai diante dele, aquilo não poderia ficar impune. Estava preste a sacar novamente seu machado e partir para cima dela, não se importando com as conseqüências daquilo, ia proteger o nome de seu pai.
- Tsc tsc
Foi tudo o que escutou de seu pai, além de notar o braço direito dele a sua frente, o impedindo de prosseguir. Thor entendeu o recado e, apesar de não gostar, acatou.
- Se ele não for purificado, milhões, centenas de milhões irão sofrer no futuro... Prefere o sangue deles em sua mão ao invés de algo simples?
- Simples? Você diz "algo simples"? Você crê que a morte de um filho é algo simples para uma mãe? Quando te colocamos no comando dos novos deuses, o intuito era que você cuidasse dos humanos, já que você já foi um... Mas a partir do momento em que você envolve os meus filhos, tudo muda...
Nix, antes calma ao lado do filho, agora o deixa para caminhar em direção ao senhor dos deuses. Sua beleza era de uma simplicidade ímpar. Thor olhava para aquela mulher caminhando e não entendia como alguém que usa apenas um longo véu azul poderia ser mais bela que Freya, Frigga e todas as valquírias juntas. Era impossível, mesmo para aqueles dois deuses, definir onde acabava suas vestes e onde começava a noite. Nix era a noite. Thor, o deus do trovão, sentiu seu rosto corar ao observá-la, ao passo que sua aproximação lhe causava uma angústia sem fim, era como um pesadelo que inevitavelmente se aproximava.
- Pode ser simples para você ordenar uma matança, pode ser simples sentar em seu trono e esperar que seu servo faça o trabalho sujo, então você desce com um exército de valquírias e diz a ele que fez um bom trabalho, mas que agora ele é um perigo para todos e precisa ser aniquilado... VOCÊ ACHA ISSO CERTO?
Quando Nix elevou o tom de voz, o deus do trovão fraquejou as pernas e invariavelmente caiu. Foi uma visão aterradora, ele encarou a deusa no olho e viu coisas inimagináveis, monstros saídos de pesadelos aterradores. Nunca mais esqueceria daquilo. Levantou-se rapidamente e a partir de agora não mais a encararia nos olhos.
- Não vai simplesmente chegar e tomar aquilo que me é importante, Odin.
- Foi você mesma, com os outros deuses juntos quem me colocou no poder, agora vem até mim e me desobedece? Na frente de meu filho? – Disse Odin, enérgico.
Nix lhe lançou um olhar de surpresa, mas Odin permanecia com sua expressão.
- Você ousa me repreender? Por acaso o tempo te deixou senil, velho decrépito?
Thor escutava aquilo e embora permanecesse calado não suportava ver seu pai ser insultado de tal forma e não revidar. Para o jovem, Odin era o deus mais forte que já existiu e nem mesmo a poderosa deusa da noite poderia com ele. O senhor dos deuses possuía a lança infalível: Gungnir. Possuía também o cavalo mais rápido dos nove reinos: Sleipnir. Comandava um exército de valquírias guerreiras e nenhum outro deus em Valhalla ousava desacatar suas ordens. No entanto aquela deusa falava com ele como se fosse um qualquer, ou pior, e Odin sequer revidava.
Nix avançou perigosamente para cima do deus e seu filho se pôs a sua frente, não deixando ela se aproximar mais, ao menos era esse seu intuito.
- Não interfira na conversa dos adultos, criança.
Foi tudo o que Thor escutou antes de ser arremessado com violência por uma força invisível, a dezenas de metros do local. Agora ela encarava Odin nos olhos.
- Não importa o quanto reclame, Nix, você sabe que temos que pará-lo, ele não só não pode mais andar entre os humanos, como não pode andar entre os deuses, nem em Niflheim, Helheim, nenhum dos nove reinos. E se a energia que emana de sua alma não for controlada, Morroc reencarnará em breve e tudo será em vão. Tem outra solução que não seja o seu extermínio?
- Considerarei isso como uma proposta. Selarei seu monstro, Thanatos não andará entre os humanos e sua alma não vai interferir na ressurreição de Satan Morroc, se um dia isso acontecer, a culpa será de seus queridos humanos...
Pela primeira vez Odin tremeu. Não que ele não soubesse o desfecho de tudo aquilo, o senhor dos deuses bebeu do poço da Grande Sabedoria nas raízes da Yggdrasil e podia ver o futuro claro como o dia e tudo aquilo não era novidade. No entanto saber como uma coisa vai ocorrer é diferente de vivenciá-la. As palavras de Nix soavam como um blefe, qualquer um diria que ela estava apenas ganhando tempo. Como seria possível ela fazer tudo aquilo sem destruir a alma do filho? Odin sabia a resposta, mas seu espanto não era menor, pois além de forte aquela mulher era deveras inteligente, como nenhum outro ser que ele já tenha visto.
- Isso é uma promessa, Nix. Não a quebre ou você sabe quais serão as conseqüências.
- Não a quebrarei, mas não pense que é por medo de suas ameaças, é pelo bem dos humanos e não seu. Não se vanglorie por ter alcançado o lugar mais alto que alguém já possa ter alcançado, por mais alto que você voe não passa de um pássaro no céu e o céu sou eu.
Os olhos de Nix, agora amarelos como os do filho, revelava a hora de Odin se retirar. Deixaria-a sozinha com o seu filho e que ela fizesse os preparativos que fossem necessários para cumprir sua promessa. Tal qual um meteoro risca o céu, Sleipnir chegou. O velho deus o montou, levando Thor, que permanecia caído do mesmo jeito, e tão rápido quanto chegou se foi. Novamente o céu se fechou, agora com nuvens calmas e azuis como o manto da deusa. Certificou-se de não haver brechas para que nada visse o que ela faria, seria o último momento a sós com o filho e queria conversar com ele.
- Ah Thana-kun...
Já abraçando Thanatos a mulher põe-se a chorar, coisa difícil de se acreditar depois de ver aquela deusa tão poderosa e enérgica encarando o senhor dos deuses como se tal fosse apenas um pirralho.
- Perdoe sua mãe, filho. Eu não pude cuidar de você como deveria, nem de Camile. Perdoe-me, por favor, eu fui uma péssima mãe.
O deus da morte ainda estava impassível. Era como uma estátua sendo abraçada, sem expressão e sem movimentos até aquele momento. Ele a abraçou. Seus braços se erguiam para isso, já que sua mãe era bem maior que ele. O paladino, por maior que fosse aos olhos de um humano, não passava de uma criança perto de sua mãe.
- Está... Tudo bem... – Disse o jovem de cabelos azuis, forçando as palavras a saírem.
Nix se ajoelhou diante dele, agora o encarando cara a cara. Dessa forma era impossível não notar a semelhança dos dois, impossível não dizer que eram mãe e filho. Rompendo o abraço ela levou as duas mãos até a face do filho.
- Mata-me ter que fazer isso... Ninguém nesse ou em outro mundo sabe a dor que sinto ao ter que fazer tal coisa, mas não há outra solução, Thana-kun. Espero que algum dia me perdoe por isso e por ter deixado as coisas tomarem o rumo que tomou. Espero também que me perdoe por ter passado mais tempo com sua irmã do que com você... Você ficou tão forte, filho... Tão bonito... Tenho tanto orgulho de você...
A deusa acaricia meigamente o rosto de seu protegido. Lágrimas ainda vertiam dos olhos dourados da mulher, mas ela sorria. O deus da morte sentia seu peito doer e algo lá no fundo de sua alma também chorava.
- Meu filho... Já é um homem... Tenho orgulho do quão forte foi, não só fisicamente... Eu vi tudo. Chorei com você pela morte de sua amada, chorei pela dor que sentiu ao ver seus amigos morrendo pelas próprias mãos. Lavei sua armadura com minhas lágrimas, para que o sangue de Maeros não se misturasse a qualquer um outro. Você pode agora ter dois corações, duas almas distintas, mas para mim sempre será meu menininho, seja ele o deus da morte ou Thanatos.
O rapaz a olhava fixamente, pois não conseguia desviar seu olhar, por mais que tentasse. Lágrimas agora teimavam em descer de seus olhos, embora sua expressão não demonstrasse nenhuma emoção. Ele sabia quem era o dono das lágrimas e não o detinha, talvez uma forma de se desculpar pela promessa que ele quebrou antes.
- Ma... M-Maeros... – Deixou escapar, gaguejando.
- Eu sinto muito Thana-kun... Todas as almas foram encaminhadas para os domínios de Hell... Eu não sei como ela está...
O silêncio predominou por alguns instantes. O deus da morte baixou a cabeça um pouco, parando assim de encarar sua mãe nos olhos, no entanto seu rosto fora novamente levantado, agora pelas mãos carinhosas de Nix.
- Não se deixe abater. Não pense que tudo acabou e nem que vai ficar assim. Você é meu filho, não há nada que não possa fazer. Lembre-se Thanatos, as pessoas são pássaros, abrem suas asas e voam para onde querem; algumas sobem mais, outras vão mais longe; mas elas se esquecem de que por mais alto e longe que voem, nunca superarão o céu e nós somos o céu.
Pela primeira e provavelmente última vez se viu uma expressão de espanto no rosto do deus da morte. Aquelas palavras lhe soavam como verdades absolutas e inegáveis.
- Seu calvário ainda não terminou, meu filho. E temo em dizer que o de Camile apenas começou... Eu não posso intervir nos planos dos novos deuses mais do que já estou fazendo, então... Filho... Por favor, você é o único que pode salvá-la... Você terá a chance não só de salvá-la, como também de salvar a si mesmo... Mas até lá, terá que enfrentar o que virá sozinho... Mamãe não poderá mais velar por você... E ninguém sabe o quanto isso me dói...
Thanatos recebeu o último abraço de sua mãe, aquele seria a última forma de afeto que teria por milênios. A deusa se levantou. As lágrimas de seu rosto já respingavam no solo árido do lugar. O jovem continuou a fitá-la, erguendo a cabeça para isso. Nix levou a mão até a testa do rapaz e hesitou por alguns instantes.
- Eu te amo filho, espero um dia receber seu perdão por isso...
Ela respirou profundamente e grudou a palma na fronte de seu filho. As pernas do rapaz fraquejaram, pois a dor que sentia agora era inimaginável. Sentia toda a força de seu corpo ser drenada, esgotada até a última célula. Ela o olhava enquanto segurava o choro. Mordia o lábio inferior ao ver o que estava fazendo com ele, o estava matando com as próprias mãos. Thanatos levou as mãos até o braço da mãe, mas sequer tinha forças para segurá-lo. Era uma dor dilacerando, como se pequenas facas rasgassem cada porção de sua carne, retirando toda a vida nela. Abria a boca para gritar, mas nenhum som saía, seus pulmões não tinham força para liberar o ar. Sentia sua consciência se esvair pouco a pouco, tudo ficar escuro e frio. Não sentia mais suas pernas, nem os braços. Logo não sentia o corpo todo, nem mesmo a dor, tudo cessara. Agora tudo jazia escuro, em silêncio, frio... A única coisa que ainda sentia era o bater do próprio coração, mas esse era lento, vagaroso e diminuía... Não sentiu o próprio corpo cair inerte no chão, nem mesmo seu coração lentamente parando. Naquele imenso precipício negro o deus da morte conseguiu avistar quatro pontos brancos ao longe. Aproximavam-se rapidamente dele, máscaras envoltas pela escuridão, silhuetas muito conhecidas.
- Vocês não devem passar daqui! Voltem! Voltem agora para a escuridão!
Bradava ameaçadoramente o paladino, mas era inútil. Seu corpo não se movia e eles passaram pelo seu lado sem nenhum problema.
"Mova-se! Mova-se! Vamos lá corpo! Não vai ser agora que eu irei perder... Não vai ser a morte que irá me deter... Não me chamam Deus da Morte por qualquer motivo..."
O corpo frio e sem vida do paladino permanecia jogado no chão, entretanto agora estava em cima de uma fria laje de pedra cinzenta. O céu a sua volta estava rodeado de nuvens escarlates, uma brisa suave as fazia dançar pelo firmamento. Aquela imensa pedra parecia acabar alguns metros além dele em um precipício sem fim, mas havia no mínimo cinco prolongamentos que se esticavam acima do nível da rocha, não muito longos. Bem no meio do lugar havia um grande monumento com estátuas imponentes em cima de um bloco maior e bem lapidado.
Em um rápido espasmo o corpo do deus da morte se levanta. Ainda sem vida, pálido como um morto, seu sangue não mais corria pelas veias e seu coração estava inerte. Seus olhos amarelos brilhantes abriram, mas fitava o vácuo. Não se escutava nada no lugar a não ser o vento assoviar algumas poucas vezes nas estátuas imóveis. Era uma paisagem desoladora aquela. Não havia pássaros, nem sol, nem céu, nem mesmo uma mísera erva daninha. Fazia frio naquele lugar, no entanto o corpo morto daquele paladino não sentia nada. Olhou para as mãos e viu os mesmos punhos que derrubaram Prontera e derrotaram Morroc, o mesmo corpo que abraçara Nix e derrotara sem esforço Randgris. Mas algo estava errado, sentia-se fraco, com o corpo pesado e um buraco no estômago. Uma sede sem fim e uma fome estranha. Escutou o barulho de um pedregulho soltar-se e bater contra algo. O paladino virou-se para o som e pôde ver, em cima de uma pequena plataforma no final do prolongamento nordeste, uma sombra negra portando uma máscara branca, era a silhueta curvilínea de Maeros. Virou-se para os outros braços pedregosos e pôde ver claramente aquelas almas que atormentavam o templário em sua alma.
- Voltem... – Balbuciou guturalmente.
Foi inútil. Eles não lhe deram ouvidos. Pouco a pouco foram desvanecendo no mesmo local enquanto o impotente deus da morte mal conseguia sair do lugar. A espada de suas costas pesava como se fosse chumbo, sua armadura pesava, seu próprio peso era insuportável. Um cansaço mórbido. Praticamente se jogou no chão, recostando no monumento grandioso que jazia no meio da imensa plataforma.
"Suportar até o fim..."
Ali estava Thanatos, agora sem os seus quatro tormentos. Apenas o deus da morte e o templário dividindo aquela carcaça sem vida, sofrendo juntos. A fome, a sede, a solidão, o cansaço, o silêncio...
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- Toda Rune-midgard estremeceu. Até mesmo os deuses ficaram tentados em espiar o que acontecia na terra dos humanos, mas apenas um deles viu: a dama da noite. Nix nunca mais andou em terra novamente, desde aquele dia.
Um grande grupo de guerreiros escutava atentamente a história que aquele estranho ferreiro contava. À frente deles havia uma gigantesca torre, seu tamanho era tal que a própria Torre de Geffen parecia um mero castelinho de areia diante daquela visão.
- Como podemos saber que sua história é verdadeira? Você é apenas um vendedor de poções que conta fábulas para os desbravadores que vêem aqui. - Quem dirigiu a palavra àquele ferreiro foi um justiceiro. Usando um sobretudo escarlate e com os coldres visivelmente enfiados roupa adentro.
Até agora nenhum dos ali presentes tinha visto de perto o ferreiro. Estava recostado sobre a mureta da ponte e a sombra que a torre fazia sobre ele não revelava muito sobre sua aparência ou roupas. Pois ele se levantou e espreguiçou. Era alto e forte, seu cabelo, de um marrom fosco e sem vida, daqueles que não vê água há dias, caiam-lhe sobre a face, ocultando seus olhos totalmente. Era um ferreiro muito, muito estranho. Suas roupas eram diferentes dos outros, embora ainda fossem roupas de ferreiro. Também não era um mestre-ferreiro, a descrição deles não batia, era algo diferente. Runas estranhas lhe adornavam as calças e o machado que portara era diferente de todos os que eles já viram. O mais singular era seu carrinho, não estava adaptado para carregar itens, parecia mais uma cama improvisada. Pois o homem caminhou lentamente em direção ao grande grupo. Vários deles sentiram sem coração gelar e muitos ficaram arrepiados. Agora estava longe da sombra, entretanto a aura sinistra e gelada não desaparecera.
- As almas que Thanatos matou, - Pôs-se a continuar a história - As almas que Thanatos purificou foram para uma área dos reinos de Hell exclusiva para eles. Lá é muito bonito... Muito calmo... – Falando lenta e vagarosamente - Os rios correm devagar, o verão é morno, mas o inverno muito frio... Ninguém pretendia sair de lá... Era mais do que muitos deles sonhavam em achar no paraíso... Aparentemente todos tinham esquecido tudo sobre o ocorrido... Sobre a guerra... Sobre a maldade... Sobre Thanatos... Mas havia um que não esqueceu! Ele nunca esqueceria!- Virou-se rapidamente para o justiceiro, que prontamente levou um susto – Não... Ele não esqueceria de novo... Érebo o nome dele... Ele havia falhado com o amigo uma vez... Ele o esqueceu... O esqueceu quando nem Maeros e nem Peco haviam esquecido... Ele não poderia se considerar um amigo de tal pessoa se o esquecesse novamente...
O ferreiro caminhava por entre os guerreiros agora. Dos tipos mais variados, das mais variadas classes, homens e mulheres. Todos abriam espaço para o contador da história passar. Seu carrinho rangia em um som triste e melancólico, seu andar era lento.
- Eles tentaram fazê-lo esquecer... Tentaram sim... Eles o torturaram, os demônios de Hell... – Um vento mais forte balançou a camisa branca do rapaz, fazendo-a levantar e mostrando profundas cicatrizes, cicatrizes mortais. – Mas ele não esqueceu... Não... Porque ele precisava ajudar... Ajudar o seu amigo... Ajudar o amigo que o salvou... Que salvou o mundo... Maeros não se lembra dele mais... Érebo tentou lembrá-la, mas os demônios o levavam novamente... – Um sorriso insano, diabólico por assim dizer, brotou dos lábios do rapaz, fazendo um jovem espiritualista desmaiar só de vê-lo. – Eles tentaram... Tentaram fazê-lo esquecer... Tentaram por mais de mil anos... Sim senhor... Mais de mil anos... Então a deusa veio e disse... Soltem o rapaz... Soltem ele... Érebo vagou pelo mundo dos vivos... Mas os vivos não o viam... Mas podiam senti-lo, podiam temê-lo... Fantasma! Fantasma!... Até hoje ele não desistiu... E sabe quando ele vai? Vocês sabem? Algum de vocês sabe? Ahn?
Aquela altura o ferreiro já tinha caminhado por entre todo o grupo. Agora estava em pé sobre um baixo morro de terra. O sol insidia diretamente sobre ele e uma fraca brisa soprava seus cabelos, revelando seus olhos completamente opacos e sem vida.
- Não sabem?... Ele nunca vai desistir... Enquanto o amigo dele, o meu amigo estiver preso lá em cima! – Apontou diretamente para o cume invisível da torre, encoberto de nuvens vermelhas. – Porque ele não merece esse destino... Não merece viver sozinho para sempre... Não merecemos tudo isso... Eu quero vê-lo... Vê-lo sorrir para Maeros... Quero ver a tirando do perigo... Quero vê-los juntos... Quero ver Mayara... Quero nosso grupo novamente... Quero... – Seu olhar perdia-se no chão, mas logo voltava em direção ao grupo. – Vocês vão libertá-lo, não vão?
Todos, sem exceção, arrepiaram-se com aquilo. Uma forte rajada de vento acometeu o grupo e o ferreiro, mas ao contrário daqueles guerreiros que continuaram firmes ali, o contador fora levado pelo ar como uma ilusão que se despedaça.
- E-e-e-e-ele e-e-e-e-era o-o-o-o-o... – Gaguejou incessantemente o justiceiro.
- Érebo... Ferreiro amigo de Thanatos... É isso que Kaline está me dizendo agora – Quem falou agora era um Professor que tinham no topo da cabeça um estranho par de orelhas pontudas e peludas. Em seus braços estava a frágil espiritualista que desmaiara mais cedo.
- Parece que você tinha razão então, Modragor... Thanatos então não era um vilão e sim o mocinho da história, quem diria... – Um lorde balançava a cabeça ao falar aquilo.
- E nós viemos aqui para resgatá-lo... Vamos agora mesmo reverter a injustiça que essa pobre alma sofre por milênios – Disse um paladino de cabelos grisalhos e voz determinada.
- E vamos fatiar uns monstros no caminho... Ah, como eu adoro essas aventuras – Sorria insanamente uma lady de cabelos lilazes.
- Ok ok, já sabemos a história, agora vamos lá pessoal... Chegou à hora de ressuscitar o paladino negro! – Bradou o paladino.
Um a um os integrantes daquele grande grupo, que na verdade era um clã, sumiam dentro da gigantesca torre. Aqueles eram os guerreiros mais destemidos que havia nessa era. Muitos bardos cantavam sobre a superioridade deles em relação ao lendário clã de Lorde Seyren Windsor, embora muitos ainda duvidassem que fossem assim tão poderosos. A questão é: poderiam aqueles guerreiros confrontar o poder que um dia rivalizou deuses? Isso só o tempo dirá.
Gaby ADM
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